Ah, o rock. Essa arte sublime onde homens adultos se reúnim para fazer música e, invariavelmente, agir como crianças em uma briga por brinquedos. Que atire a primeira baqueta quem nunca ameaçou sair da banda porque não deixaram usar aquele pedal novo. No caso do Red Hot Chili Peppers, a treta da vez veio durante a gravação do álbum By the Way, de 2002, que quase teve como efeito colateral a saída definitiva do baixista Flea.
Sim, Flea, o cara que toca descalço, salta mais que o Super Mario e praticamente inventou o conceito de “baixo com atitude”. Em entrevista, ele revelou: “Tava positivo que ia sair fora. Pensei: ‘Acabou. Não tá mais divertido, não posso mais me expressar aqui'”. O motivo? O domínio criativo cada vez maior de John Frusciante, o guitarrista que, nessa época, estava tão imerso em suas camadas sonoras e harmonias elaboradas que, aparentemente, esqueceu que o baixo também existe.
Agora, sejamos honestos: By the Way é um álbum massa. Mas é aquele tipo de trabalho que faz você pensar “isso aqui é Red Hot mesmo ou uma jam session do Frusciante com ele mesmo?” Enquanto John estava ocupado construindo catedrais sonoras em forma de refrão, Flea estava lá no canto, sentindo-se o estagiário da banda. E a gente sabe: nenhum estagiário fica feliz quando o chefe come seu lanche e ainda leva os créditos pela apresentação.
A tensão era tanta que a turnê do álbum foi tipo aquele relacionamento que você insiste em manter até o fim do contrato do aluguel. Quando acabou, os Chili Peppers tiraram umas férias forçadas de seis meses. E é aí que entra o milagre moderno do rock: o tal do “diálogo sincero”. Flea e Frusciante sentaram, conversaram, soltaram os demônios e, surpreendentemente, ninguém saiu no soco.
“Foi muito saudável pra mim”, disse Flea, provavelmente ainda surpreso por ter resolvido uma briga de banda com palavras e não com amplificadores voando pela sala. E funcionou: em 2006, lançaram Stadium Arcadium, com clima colaborativo, abraços, cafuné e, quem sabe, até um ou dois “foi mal, mano” no estúdio.
Moral da história? Se até os Chili Peppers sobreviveram à fase “cada um por si e o Frusciante por todos”, há esperança para o resto de nós. Mas vamos combinar: ainda bem que Flea ficou. Porque por mais genial que seja a guitarra, sem aquele baixo nervoso, o Red Hot é só pimenta sem ardência.