Se você é fã de Radiohead, parabéns: você provavelmente passa boa parte do tempo se questionando sobre existência, ouvindo barulhos que parecem saídos de um pesadelo distópico e explicando para os amigos por que Kid A é, sim, um álbum maravilhoso e não um compilado de sons que pareciam erro de gravação. Mas até mesmo os gênios têm seus tropeços, e Thom Yorke sabe muito bem disso.
Entre todas as músicas da discografia da banda que podem ser descritas como “transcendentais”, “revolucionárias” ou “não recomendadas para quem está emocionalmente estável”, existe Bones, uma faixa que, segundo o próprio Yorke, simplesmente não funciona ao vivo. E, veja bem, isso não sou eu dizendo – o próprio oráculo de nossa angústia moderna admitiu: “Toda vez que tentamos ressuscitar essa música, não funciona”.
Agora, como um fã de Radiohead que gastou dinheiro comprando vinis que nunca ouvi e camisetas que me fazem parecer um personagem de Black Mirror, eu poderia tentar justificar isso de várias formas. Mas quando Yorke diz que Bones soa como Status Quo, fica difícil defender. Status Quo, meus amigos. A banda favorita do seu tío roqueiro que usa camiseta regata e acha que “rock de verdade” morreu nos anos 70.
A questão é: por que Bones nunca funcionou no palco? Teria sido uma maldição dos deuses do rock alternativo? O peso existencial da própria letra? Ou apenas um riff que não faz sentido fora do estúdio? Como um bom fã, minha resposta oficial é: “isso faz parte da genialidade da banda”. Mas honestamente, talvez Yorke tenha apenas percebido que nem toda música precisa ser uma experiência espiritual no palco.
E sejamos realistas: se você é fã de Radiohead, você já se acostumou com setlists imprevisíveis. Nada como pagar um rim no ingresso e descobrir que Thom decidiu tocar Treefingers em vez de Creep. Bones não funcionar ao vivo é apenas mais um capítulo no livro de mistérios insondáveis que chamamos de Radiohead. Agora, com licença, vou ali me deitar em posição fetal ouvindo How to Disappear Completely.