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Análise do Oscar 2025: Anora é o filme mais rock n’ roll da temporada

Se o Oscar 2025 fosse um festival de música, Anora teria sido a banda que subiu no palco, quebrou a guitarra e incendiou a plateia. Em uma noite histórica, o longa de Sean Baker varreu a premiação e se consagrou como o grande vencedor da temporada, levando Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Montagem – um feito inédito para um único cineasta. Como se não bastasse, Mikey Madison desbancou veteranas como Demi Moore e Fernanda Torres para levar o prêmio de Melhor Atriz, consolidando Anora como o filme que ninguém viu chegando, mas que atropelou a concorrência sem pedir licença.

Cinema indie na sua melhor forma

O que torna Anora tão especial? Para começo de conversa, é um filme que carrega a energia do cinema independente na veia. Sean Baker já provou ser um mestre em retratar personagens marginalizados com realismo e humanidade, mas aqui ele foi além: Anora tem o frescor de uma produção guerrilha, a ousadia de quem não tem medo de arriscar e a força narrativa de quem sabe exatamente o que quer contar.

Com um orçamento de apenas US$ 6 milhões, Anora derrotou gigantes de Hollywood e provou que, no fim das contas, o que vale é o impacto que um filme causa, não o tamanho do cheque assinado por um estúdio. Enquanto blockbusters como Dune: Parte Dois apostavam em efeitos visuais de cair o queixo, Baker filmava com sua câmera 35mm, improvisava cenas no meio de festas reais e transformava um simples drama de relações em uma montanha-russa de caos, humor ácido e crítica social.

Mikey Madison: de coadjuvante a estrela do ano

Se Anora foi o filme mais rock n’ roll do ano, Mikey Madison foi sua estrela punk. Aos 25 anos, ela deixou para trás os papéis menores em Era Uma Vez em… Hollywood e Pânico e entregou a performance de sua vida.

Ani, sua personagem, é vibrante, complexa e cheia de nuances – e Madison interpreta cada camada dela com um misto de carisma e vulnerabilidade que prende o espectador do início ao fim. Seu Oscar não foi um presente da Academia: foi uma conquista merecida, suada, e uma prova de que estamos diante de uma nova potência do cinema.

Uma vitória para o cinema que desafia padrões

Os grandes vencedores do Oscar muitas vezes seguem um padrão: dramas biográficos, histórias inspiradoras, cineastas consagrados. Anora não se encaixa em nenhuma dessas caixinhas. Ele é rápido, irreverente, sujo quando precisa ser, e bonito quando menos se espera. Ele não quer agradar a todos, e talvez seja exatamente por isso que conquistou tantos.

Sean Baker fez história ao levar quatro estatuetas sozinho, tornando-se o primeiro diretor a alcançar esse feito. Mas, mais do que isso, Anora marca um momento raro na história do Oscar: aquele em que a rebeldia vence o tradicional, e o cinema independente mostra que ainda pode ditar as regras do jogo.

E que venham mais Oscars assim.