Belo Horizonte sempre ostentou com orgulho o título de capital dos botecos. Afinal, onde quer que você esteja, basta virar uma esquina para encontrar um bar te chamando para uma gelada. Mas, nos últimos anos, além da fama etílica, a cidade também se tornou a segunda casa do Black Drawing Chalks, a banda goiana que se tornou figurinha carimbada no circuito alternativo de rock da cidade.
Sempre presentes nos eventos de rock ‘n’ roll produzidos por aqui, não demorou para Victor Rocha (guitarra/vocal), Dennis de Castro (baixo) e Douglas de Castro (bateria) conquistarem a devoção do público mineiro. Recentemente, a banda teve que lidar com a saída do guitarrista Renato Cunha, mas trouxe para o time o talentoso Edimar Filho, que logo mostrou a que veio. O resultado? Uma base de fãs cada vez mais diversa, que vai desde os antigos roqueiros de carteirinha até um público novo, que talvez tenha confundido o BDC com o Matanza em algum momento. Uma mistura inusitada, mas que tem sido vantajosa para as bandas, ajudando a expandir seu som para tribos diferentes.
Noite de Rock e Expectativas Altas
Era uma noite de sábado e, como já era de se esperar, a fila para entrar no Studio Bar parecia não ter fim. O tempo de espera de mais de uma hora e meia impediu muitos (eu incluso) de conferirem o show da Kingsizebox, a banda encarregada de abrir a noite. O local já estava abarrotado, prometendo uma noite quente no melhor estilo das Flaming Nights, organizadas pelo 53HC. O evento foi produzido pelo Coletivo Pegada, que vem se destacando como um dos principais fomentadores da cena independente em BH.
Enquanto aguardava a próxima atração, o Festenkois, o público se acotovelava nas filas para comprar bebida e curtia a seleção esperta do DJ Tinhoso. Ele mandou ver com hinos como Should I Stay or Should I Go do The Clash e Anarchy in the UK do Sex Pistols, criando uma atmosfera única. Foi curioso ver como a mistura de públicos se refletiu na pista. Patricinhas cantando Sex Pistols é um evento que te faz refletir sobre como a música tem o poder de unir pessoas improváveis.
Festenkois: Energia e Peso
Formado em 2008, o Festenkois conta com Luiz Ramos (bateria), Patrícia Yegros (baixo/voz), Rafael Menezi (guitarra/voz) e Rafael Dantas (guitarra/voz). A banda, que lançou seu primeiro disco em 2011, tem uma sonoridade que remete a nomes como Sonic Youth, Smashing Pumpkins e Alice in Chains. E, naquela noite, eles provaram que sabem fazer um show de respeito. O destaque ficou por conta do baixo pulsante de Yegros, que formou uma parceria matadora com a bateria e garantiu momentos instrumentais intensos que fizeram o público se perder na música.
O Caos do Black Drawing Chalks
Quando o Festenkois encerrou sua apresentação, todas as atenções se voltaram ao palco. O Black Drawing Chalks estava prestes a estrear seu novo guitarrista na cidade e testar músicas inéditas. Assim que subiram ao palco, o caos se instaurou. Camisas voaram, rodas foram abertas e os seguranças tentaram, sem sucesso, manter o controle. Rocha, sempre carismático, brincou com o público, lamentou o fim do seu drink e declarou que cerveja era “bebida de criança”.
O setlist incluiu clássicos como Simmer Down, Precious Stone e Magic Travel, e, em meio a tantas piadas e interações, Douglas ainda brincou que a última música seria “a última chance para os solteiros desencalharem naquela noite”. O show seguiu com Cut Myself in Two, uma das novidades do repertório, deixando a galera intrigada sobre a visão de sedução do baterista.
Antes de tocar Leaving Home, Rocha mencionou que o clipe da canção havia sido gravado durante a turnê com o Hellbenders no ano passado, incluindo cenas filmadas no próprio Studio Bar. A noite se encaminhava para o fim, mas ninguém queria arredar o pé dali.
Mais Que “My Favorite Way”
O Black Drawing Chalks é muito mais que My Favorite Way, mas a verdade é que essa música tem um magnetismo difícil de ignorar. No entanto, faixas como Don’t Take My Beer, I’m a Beast, I’m a Gun e a própria Leaving Home também foram recebidas com euforia. A energia era tanta que até os fotógrafos pareciam dispostos a arriscar seus equipamentos para capturar a loucura que rolava na pista.
Desde o primeiro show que vi, no Festival Eletronika de 2009, passando por uma Flaming Night em 2010, até chegar a esta noite insana no Studio Bar, testemunhei a evolução da banda. A técnica refinada, o entrosamento e a capacidade de transformar qualquer show em uma experiência catártica fazem do BDC um dos grandes nomes do rock nacional.
O Futuro Promissor
O Black Drawing Chalks encarna a essência do rock ‘n’ roll: atitude, personalidade e entrega total nos palcos. Além disso, souberam criar uma identidade visual marcante sem parecerem prepotentes. Ao contrário de bandas que são momentaneamente alçadas à categoria de “melhor show do ano”, o BDC realmente se consolidou e segue aprimorando sua performance.
Com um novo álbum a caminho, No Dust Stuck on You, previsto para maio, e contando com participações de ex-integrantes e amigos da cena, o Black Drawing Chalks segue como um dos nomes mais empolgantes do rock nacional. Que venham mais noites caóticas e inesquecíveis!
P.S.: Agradecimento especial ao Donald, que foi gente finíssima e ajudou a formular este texto.
Publicado originalmente no Portal Rockinpress