Uma análise sobre “Dead Inside”, uma das músicas presente no disco Drones, dos cuzões do Muse. Fiz esse texto há alguns anos e só agora vou publicar. Acontece.
A banda tenta se reinventar com coragem, mas sempre se fode e faz umas coisas toscas até acertar se aceitando como brega. Gosto de Muse, vejam bem, mas isso não significa que eles não sejam babacas.
A falecida “Madness” é cheia de detalhes intensos de interpretação que Bellamy chupou de “With or Without You”, do U2, isso sem falar no solo plagiado do Brian May.
Em “Dead Inside”, temos um clima anos 1980, Depeche Mode paraguaio, com menos nuances que a citada acima, mas com uma pegada bem interessante e uma letra sobre uma louca manipuladora e controladora. Será sobre a ex? Pode ser. Ou pode ser sobre ele mesmo, vai saber…
Arrepio com os versos “because you need control / now i’m the one who’s letting go”. Para pessoas como essa personagem descrita na música, deve ser desesperador querer manter o domínio e o poder sobre quem simplesmente não está mais lá para ser manipulado. Força a ter atitudes mais extremas, acredito.
Ainda tem a sequência com “you like to give an inch / whilst i am giving infinity”. As famosas migalhas necessárias para manter o interesse vivo, sabe? Alimentar o amor/obsessão. Enquanto uma parte faz o mundo girar ao contrário para ser notada, a outra, friamente, se resume a dar um “ok”. Frustração define.
“And confine me then erase me babe” pode ser o Muse regurgitando suas próprias letras com “Citizen Erased” ou apenas uma fala sobre a dificuldade em aceitar o que você quer: sofrer ou seguir a sua vida. Ser confinado para depois deletado significa uma última experiência. Uma última vez para ser usado também, claro.
Essa construção para o refrão é outra coisa fenomenal. “Your lips feel warm to the touch / you can bring me back to life”. Véi. Pensa só que foda. A personagem é aquela pessoa atraente – especialmente aos olhos da vítima/narrador – que acredita existir uma espécie de magia em estar com ela, como se o beijo fosse o combustível que ele precisa para colocar no carro e rodar pela cidade. Ou apenas sentir-se bem, vivo, feliz e completo, mas então temos a conclusão “on the outside youre ablaze and alive / but you’re dead inside”.
Véeeeei!
Saca como existe a percepção da realidade, mas um desejo tóxico de se machucar e causar mal. Isso é maior. Parece existir uma noção sobre a saúde da personagem, que pode ser tanto alguém que simplesmente não está a fim do narrador quanto uma pessoa doente que se tornou insensível após viver decepções. Talvez ela nem perceba isso. Ela pode não ser imbecil e estar apenas perdida.
A parte final evoca o desabafo de “Madness”. Não tem um grito, mas existe aquele momento desesperado, com o narrado de joelhos praticamente implorando para acabar com essa putaria e tomar as decisões para que os dois sejam felizes.
Percebe-se a falta de amor próprio em “only you can stop the pain”; a dependência e necessidade de culpar o outro pelos seus próprios erros em “don’t leave me out in the cold / don’t leave me out to die”; e aquela parte em que a história tenta fechar um arco bonitinho transformando o narrador naquilo que ele cantou e reclamou o tempo inteiro (“i gave you everything / i can’t give you anymore / now i’ve become just like you”).
Talvez seja uma grande letra incompreendida sobre não apenas uma pessoa insensível, manipuladora e controladora, mas também sobre a falta de amor próprio.
Qualquer que seja a interpretação escolhida, o que importa é pensar sobre e aceitar que tudo tem a tendência a mudar para a pior. Inclusive uma banda que já mereceu tanto carinho e atenção ao ponto de receber uma tatuagem. Mas no meu caso, eu sou o cara que tatuou um clip art na costela e um coração… O lance aqui é a tal da música sobre estar morto por dentro.
Letra de “Dead Inside”
Dead inside!
Revere a million prayers
And draw me into your holiness
But there’s nothing there
Light only shines from those who share
Unleash a million drones
Confine me then erase me babe
Do you have no soul?
It’s like it died long ago
Your lips feel warm to the touch
You can bring me back to life
On the outside you’re ablaze and alive
But you’re dead inside!
You’re free to touch the sky
Whilst I am crushed and pulverized
Because you need control
Now I’m the one who’s letting go
You like to give an inch
Whilst I am giving infinity
But now I’ve got nothing left
You have no cares and I’m bereft
Your skin feels warm to caress
I see magic in your eyes
On the outside you’re ablaze and alive
But you’re dead inside!
Feel me now, hold me please
I need you to see who I am
Open up to me, stop hiding from me
It’s hurting babe
Only you can stop the pain
Don’t leave me out in the cold
Don’t leave me out to die
I gave you everything
I can’t give you anymore
Now I’ve become just like you
My lips feel warm to the touch
My words seem so alive
My skin is warm to caress
I’ll control and hypnotise
You’ve taught me to lie without a trace
And to kill with no remorse
On the outside I’m the greatest guy
Now I’m dead inside!