Em meio a análises profundas que juram que Yellow Submarine é uma alegoria contra o imperialismo ou um manifesto de paz pintado com giz de cera, Ringo Starr — sempre o mais direto dos Beatles — jogou a real:
“Poderia ser em um submarino verde, mas um submarino amarelo é muito melhor. Ou um roxo profundo, que faria as pessoas pensarem: ‘O que eles estão falando agora?’”
A declaração hilária foi resgatada em matéria recente do Far Out Magazine, mostrando que, entre todas as discussões sobre a genialidade dos Beatles, às vezes o motivo de uma escolha artística pode ser simplesmente… porque soa melhor na música.
Um hino psicodélico infantil ou só uma faixa pra vender lancheira?
Lançada em 1966 como lado A duplo com Eleanor Rigby, Yellow Submarine virou símbolo de uma fase mais colorida (e lisérgica) dos Fab Four. Com Ringo nos vocais, backing vocals de amigos aleatórios como Marianne Faithfull e o motorista da banda (!), e uma animação cheia de bizarrices visuais, a música rapidamente se tornou a porta de entrada para crianças — e adultos chapados — no universo Beatle.
Segundo o autor Ian MacDonald no clássico Revolution in the Head, Paul McCartney começou a escrever a música ainda na cama, como uma canção para crianças, talvez influenciado pelo ritmo de marcha de Rainy Day Women #12 & 35, de Bob Dylan, que estava nos charts britânicos duas semanas antes.
Mas por que não “Purple Submarine”? Ou “Silver”? Ou “Bege Perolado”?
Porque nenhuma dessas opções rima bem. Nenhuma carrega o mesmo impacto visual. Nenhuma funciona com a métrica do refrão. Como Ringo explicou com sabedoria digna de um monge beatlemaníaco, “deep purple submarine” teria soado estranho — e, convenhamos, já tinha uma banda com esse nome. “Silver” soa técnico demais. “Orange” não encaixa com nada. E “lilac” é o tipo de palavra que só funciona em catálogo de almofadas.
Yellow, por outro lado, evoca sol, infância, psicodelia, camisetas do verão de 1967 e um certo je ne sais quoi de insanidade controlada. Ou seja: tudo que os Beatles estavam canalizando naquela época.
Conclusão: o amarelo venceu, como sempre
Você pode até não gostar de Yellow Submarine. Pode achar que a música infantiliza o legado da maior banda de todos os tempos. Pode inclusive desejar que ela nunca tivesse existido (principalmente se tem filhos que a cantam em looping).
Mas uma coisa é certa:
Se fosse “Purple Submarine”, ninguém teria feito um filme. Nem comprado o boneco. Nem lembrado.
E como nos lembra o Far Out Magazine, às vezes tudo o que separa o mito da mediocridade é um adjetivo bem escolhido.