A primeira vez que ouvi Caju, o mais recente álbum da Liniker, foi depois de assistir a um show dela em Belo Horizonte. No palco, ela entregava tudo: presença, potência vocal, emoção. O público? Hipnotizado. Era como se todo mundo ali tivesse encontrado uma espécie de templo sonoro onde problemas não existiam e o amor, de fato, triunfava.
Fui pra casa convencido: preciso ouvir esse álbum. Preciso entender essa devoção. E entendi. O álbum é lindo. Muito lindo. Mas também muito feliz.
E, veja bem, não sou contra felicidade. Apenas não sei o que fazer com ela.
UM ABRAÇO SONORO PRA QUEM SABE RECEBER ABRAÇOS
Caju é um disco sobre amor, sobre afetos, sobre essa coisa meio mística que algumas pessoas ainda sentem ao se relacionar com outras sem medo de serem traumatizadas. Tem poesia, tem romantismo, tem arranjos luxuosos que te envolvem como um abraço apertado.
Liniker canta sobre carências e vulnerabilidades com a sensibilidade de quem realmente acredita que tudo vai ficar bem. O problema é que eu sou um quase-quarentão deprimido prestes a ser demitido (ou a pedir demissão, ainda não decidi). Se fosse um álbum tranquilo e triste, eu me jogava sem medo. Mas é tranquilo e esperançoso. E esse é um nível de equilíbrio emocional que eu não estou operando no momento.
MÚSICAS QUE TE FAZEM ACREDITAR NO AMOR (SE VOCÊ ESTIVER PRONTO PRA ISSO)
O álbum abre com a faixa-título, Caju, uma balada que já te dá o tom do que vem a seguir: sofisticação instrumental e uma Liniker entregue às emoções. Tem orquestra, pianos, percussões, tudo muito bem produzido. E eu ali, ouvindo e pensando: caramba, que lindo… pena que não sou essa pessoa que sente essas coisas bonitas.
Depois vem Veludo Marrom, que soa como um romance chique em forma de música. Aí tem Ao Teu Lado, que coloca Liniker junto de Ana Caetano e Vitória Falcão (do Anavitória) e um piano cinematográfico de Amaro Freitas. O resultado? Um épico sentimental que provavelmente já fez alguém pedir outra pessoa em namoro.
Mas Caju também sabe sair da melancolia e partir pro gingado: Febre tem um cavaquinho delicioso, Negona dos Olhos Terríveis traz um gostinho de BaianaSystem (mas sem a explosão característica da banda), e Papo de Edredom passeia pelo R&B contemporâneo com a participação da cantora Melly. Já Deixa Estar coloca Liniker, Lulu Santos e Pabllo Vittar numa pista de dança com orquestra. Sim, esse álbum vai pra todos os lugares.
E então, quando você já está convencido de que esse é um disco para acreditar na vida, vem Take Your Time e Relaxe para te dar um conselho motivacional recitado. O conceito? Lindo. Mas, sinceramente? No estágio atual da minha vida, minha reação foi um sonoro “amiga, não tenho tempo nem pra entrar em colapso direito”.
VEREDITO: UM ÁLBUM QUE MERECE SER OUVIDO (MESMO QUE NÃO SEJA SUA VIBE)
Apesar de minha alma rabugenta e de minhas dificuldades em lidar com músicas que não combinam com minha vida caótica, preciso admitir: Caju é um álbum lindo, bem produzido, elegante e cheio de emoção. Liniker entrega uma interpretação impecável, a instrumentação é grandiosa e cada faixa tem um cuidado quase artesanal.
Vou ouvir no repeat? Talvez não. Mas não porque não seja bom – é excelente –, e sim porque algumas músicas parecem incompatíveis com meu humor de “quero reclamar da vida em paz”.
Se você está em busca de um disco para embalar momentos de afeto, esperança e contemplação da vida, Caju é a escolha perfeita. Agora, se você for um adulto cínico, cansado e no meio de uma crise existencial… bem, talvez seja melhor esperar um pouco antes de dar o play.
NOTA FINAL: 9/10 – Lindo, bem-feito, sofisticado… e perigoso se você não estiver pronto para sentir coisas boas.